No final de setembro de 2023, comemoramos os 35 anos de existência do Programa de Educação Tutorial do curso de Geografia da UFPE (PET-Geo). E demarcando a memória das bodas de coral, o coletivo PET-Geo decidiu celebrar este momento especial dialogando com as influências sofridas na formação de centenas de geógrafas e geógrafos nestas três últimas décadas e meia. Assim, temos uma perspectiva dialógico-epistêmica que parte de uma matriz centrada naquilo que estamos denominando aqui de Geografia Cidadã e outra que parte da matriz da Geografia da R-existência.
Um momento como este é altamente propício para a realização de balanço e avaliação da caminhada acadêmica percorrida até aqui e das construções favoráveis a uma geografia corporificada através da experiência do método e da teoria. Desde a sua criação, ainda no ano de 1988, os quatro tutores que me antecederam tiveram o cuidado e o rigor não somente de seguir a proposta inicial do programa, bem como aperfeiçoá-la sem cair nas armadilhas reducionistas de priorizar determinado campo do saber ou espectro do conhecimento científico. Por isso que os atuais petianos, perspicazes como toda petiana e todo petiano há de ser, identificaram no fazer e pensar do geógrafo Milton Santos uma das fontes de inspiração que orientaram as ações e os projetos do PET-Geo ao longo de sua criação até o presente.
Também faz parte do próprio Milton Santos a matriz da Geografia da R-existência. É exatamente na busca dessa Geografia da totalidade que geógrafas e geógrafos brasileiros se debruçam e dedicam estudos e investigações para avançar e romper com a perversa desigualdade intencionalmente implantada em simultâneo com o desenvolvimento de uma cidadania inacabada e que, por ser exógena à nossa realidade geográfica, não se completa. E nos ronda como uma espécie de maldição da modernidade. O projeto de civilização exatamente não se conclui por não ser capaz de compreender e incorporar tanta pluridiversidade presente no espaço brasileiro.
Resta aprofundar no próprio lastro desta questão e geografizar as formas plurais de reprodução da vida e de re-existir num país com tantos desafios. Por isso, resistir adquire novo significado a partir das questões e idéias apontadas por um outro geógrafo que nos deixou recentemente: Carlos Walter Porto-Gonçalves. O mesmo nos alertava e deixou seu legado complementando as perspectivas anteriores, enfatizando que são nas lutas sociais que construímos o episteme do fazer territorial.
Apresentamos este e-book e desejamos que nos próximos 35 anos do PET-Geo as geógrafas e os geógrafos formados sigam transformando as realidades sociais nas quais estarão inseridos, e que possamos viver e existir num país com justiça territorial e sem fome.
Prof. Dr. Claudio Ubiratan Gonçalves
Tutor PET-Geografia da Universidade Federal de Pernambuco
Recife, janeiro de 2024