A Literatura infantil e a Literatura infantojuvenil podem ser entendidas como possibilidades de inserção no universo mágico da leitura. Para entendermos bem a importância dessa literatura na formação do ser humano, é necessário um olhar mais detido sobre como a humanidade sempre foi e é movida pelo desejo de narrar, mesmo quando ainda nem tem o domínio da linguagem oral (como os balbucios dos bebês).
Esse fascínio por contar e ouvir história também se evidencia na variedade de textos que foram legados às diversas gerações e continuam sendo produzidos: mitos, lendas, fábulas, contos de fadas, contos maravilhosos e tantos outros. Tudo isso forma um rico material a que temos acesso, repleto de histórias que nos permitem conhecer outros homens, cheios de memórias coletivas, arraigados de diversidade cultural, encantamentos e valores que são humanos, apresentados, muitas vezes, com carizes universais e atemporais.
Não resta dúvida de que a literatura é um lugar especial, em que muito se discute. Discutir questões que são caras ao homem por meio do texto literário é um exercício que a universidade tem feito. Isso contribui para a ampliação do entendimento do mundo e do ser humano.
Nessa perspectiva, este e-book reúne ensaios oriundos de pesquisas e atividades acadêmicas realizadas durante o desenvolvimento da disciplina Literatura Infantojuvenil, ofertada pelo Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Campus Pedreiras, em 2022.1. O objetivo dessa produção está voltado para discussões e reflexões em torno do tema Diálogos sobre Literatura Infantil, Infância e Formação de leitor. São, portanto, diálogos travados durante as aulas, pelos alunos do 4º Período do Curso de Letras da instituição, que já estão trilhando os caminhos da pesquisa, entendendo-a como parte essencial da própria formação acadêmica.
O e-book Diálogos sobre Literatura Infantil, Infância e Formação de leitor apresenta textos de crítica literária e de análises de obras voltadas para a criança ou, ainda, que tenham a infância como foco. Assim, no texto As mudanças de Alice: ensaio sobre um ser em constante transformação, Gabriela Cristina analisa o processo de transformação ocorrido com a protagonista de um dos maiores clássicos da literatura infantil universal, Alice no País das Maravilhas. Com uma escrita consistente, a autora relaciona essas transformações pelas quais passa a personagem com os próprios processos de mudança e transformação que o homem também vivencia.
Essa mesma obra foi analisada no trabalho Alice no País das Maravilhas: um olhar para a criança em formação. Nele, Francisco Dheyson discute o papel do texto literário na formação da criança enquanto sujeito, mostrando como as histórias infantis, assim como a da menina Alice, podem cumprir bem um papel de levar a criança à descoberta, ao questionamento, o que possibilitará a construção de conhecimentos múltiplos.
Em O Pequeno Príncipe e a difusão do imaginário: entre os limites da categorização, Edson Araújo parte da obra O Pequeno Príncipe para fazer uma análise crítica acerca da categorização das narrativas infantis, entendendo que isso restringe as possibilidades de leituras e de construção de sentidos para texto literário.
No texto A ausência da infância da criança negra no conto Negrinha, de Monteiro Lobato, Myrelly de Mello aborda a literatura infantil brasileira na perspectiva dos estudos das relações étnico-raciais. A partir do conto lobatiano, a autora faz uma análise contundente sobre a ausência da infância no conto, mostrando que os impactos do tratamento dado à personagem central da obra, por todos que convivem com ela, evidenciam que, mesmo no “pós-escravatura” essa era a realidade do povo negro. E nesse processo de desumanização, orquestrada pelo escravagista, nem a infância foi poupada.
Na discussão proposta no texto Contribuições dos Contos de Fadas para o imaginário infantil, Ilene Maria discute a importância das narrativas infantis para o desenvolvimento intelectual da criança, sobretudo, nas fases iniciais da vida – incluindo a vida escolar –, pois é quando a criança dá vida a tudo que a cerca. A autora defende que essas narrativas fomentam positiva e substancialmente o imaginário infantil.
Na esteira do texto de Ilene Maria, a discussão Representatividade negra na literatura infantil: por que é tão importante?, de autoria de Mateus Lima, também aborda a formação do imaginário infantil e como as narrativas podem ser lugar de conhecimento de si, do mundo e do outro. O autor faz uma reflexão necessária sobre a representação da criança negra nos contos infantis, pois esses textos podem ser um aparato importante para trabalhar questões que são caras ao negro, como representatividade, aceitação, identidade… tudo isso trabalhando desde a infância e à luz do que diz a Lei 10.639/2003.
No ensaio final deste e-book, o texto A importância da literatura infantojuvenil na construção do hábito literário do estudante: a escola como propulsora do hábito literário no discente, Maiara Cristina discute sobre a importância da literatura infantojuvenil para o desenvolvimento dos hábitos de leitura. A autora destaca também o papel da escola e do professor nesse processo de ensino, enfatizando que as ações escolares com esse foco devem ser pensadas desde os documentos da instituição – no Projeto Político Pedagógico, por exemplo.
São, pois, ricas discussões que podem contribuir para despertar o interesse de leitores nas questões levantadas por esses pesquisadores, além de se constituir como um estímulo ao exercício da pesquisa e da leitura, de forma crítica e autônoma, no ambiente acadêmico e na formação pessoal e profissional de cada um.
A organizadora