Mentes perturbadas

Logo que tive acesso aos arquivos pessoais liberados do acervo presente no asilo de loucos de Violet para análise e conclusão desse livro, procurei manter-me cético com relação a todos os dados apresentados até aquele momento. Toda a indiferença, no entanto, não permaneceu em meu ser após analisar as chamadas “páginas negras” daquele dossiê, como o próprio Dr. Thompson havia alertado em suas anotações.
Personalidades conturbadas que a própria medicina havia abandonado a mercê de sua loucura. Seres que tiveram aqui seus nomes preservados, pois a simples citação de suas sílabas alinhadas levaria o leitor ao distúrbio mais profundo. Mentes insanas, que durante muito tempo tiveram suas vidas esquecidas no fundo da gaveta de um sanatório.
Dezenas deles estão aqui retratados, alguns de forma biográfica e tantos outros em relatos ficcionais deixados pelos próprios pacientes. Várias dessas histórias aconteceram antes do ápice que os levaram a serem consideradas “Mentes perturbadas”, e a decisão de qual ponto de suas vidas selecionar coube exatamente aos fatores que serviram de consequência aos fatos.
Confesso que apesar da profunda análise dos relatórios, e dos princípios de insensatez que tive após tê-los em minhas mãos, ainda questiono sobre o título escolhido para esta obra, pois, de todos aqueles seres selecionados, ainda não possuo o total discernimento dos quais são os que realmente possuem mentes perturbadas.
O assediado ou assediador? O louco ou o médico?
Talvez nunca alcance total conclusão.
Acalento-me, no entanto, quando chego a concluir que o fator decisivo para essa escolha cabe unicamente a você. Sua forma de enxergar os fatos, de admirar-se e indignar-se ao folhear essas histórias fará com que sua seleção de preferência seja, portanto, diferente da minha.
Preciso que você compreenda, antes de iniciar esse livro, que possuir uma mente perturbada não é uma espécie de maldição. Depois de tudo que vi, agora acredito que a loucura em grande parte depende de a qual voz você dará ouvidos ou de qual lado da arma você pretende ficar.
O resto é tudo delírio convencional.

Sobre o autor

T.J. Nicodemus é um escritor Brasileiro, premiado com o terceiro lugar no Concurso Internacional de Literatura Policial – Contos Insólitos – 2015. Autor dos contos “Judy” e “Desígnios de uma mente perturbada”, selecionados pela Editora Illuminare e publicados na antologia “I Offer Myself”, lançada na Feira do Livro em Londres -2015. Foi ainda premiado no Concurso Cultural do dia da toalha (Editora Intrínseca) e no prêmio literário Glorioso império do Brasil – 2015.
Dentre seus trabalhos publicados estão o romance “O Condado” e o livro de contos pós-traumáticos “Eu Não Lembro” (Editora Itacaiúnas), ambos no gênero suspense.