A história deste livro começa com um projeto de mestrado concluído há dois anos, mas em fase de aprofundamento no doutorado. O tema teria encontrado dificuldade em qualquer campo do conhecimento por se tratar das letras ousadas do funk interpretadas pelas MC´s do Rio de Janeiro. Mas por se tratar de cultura e de um movimento que vem das favelas cariocas, aceitamos o desafio, nele vendo uma oportunidade de buscar novas fontes de inovação na abordagem do real, quando este não se manifesta de forma simples e é estigmatizado pela sociedade. O preconceito vai além da subordinação da mulher, é uma arma que reproduz a violência, a desigualdade, a exploração e a culpabilizaçao do gênero feminino, enquanto mãe, força de trabalho e todas as dimensões que a constituem como ser social, tolhendo a liberdade e a sua emancipação como indivíduo social. Portanto, é um sujeito incapaz nos padrões burgueses e mesmo que as redes sociais dêem mais visibilidade às vanguardas culturais, o mundo cultural segue dominado pelo padrão masculino, onde a mulher é casual. Apresentar este livro significa situá-lo na cultura urbana de Niterói, onde as vanguardas se insurgem através do cinema independente, do teatro, das bandas de rock, de blues, da dança de rua, como rap e o funk, as escolas de samba e o futebol, o balé clássico e as artes plásticas. Se insurgem mostrando a necessidade de políticas de valorização e reconhecimento, sem estabelecer contraponto com a cultura erudita, abandonada nos acervos por falta de investimento público, embora estejam entre os mais importantes legados da recente história política do estado do Rio de Janeiro. O caráter elitista desleixado do poder público em relação a criação histórica é o mesmo que deslegitima a cultura popular que nasce das favelas.
LUCI FARIA PINHEIRO
Professora da Universidade Federal Fluminense