A urbanização acelerada no Brasil, assim como em outros países do mundo, trouxe à tona desafios socioambientais que antes eram perceptíveis apenas nos grandes centros metropolitanos de países desenvolvidos. A ocupação desordenada de áreas periféricas e intraurbanas tem contribuído significativamente para a proliferação de assentamentos irregulares, muitas vezes localizados em áreas naturalmente propensas a desastres hidroclimáticos, como enchentes e inundações.
Diante dessa realidade, a identificação e catalogação prévia de áreas mais propensas às consequências de eventos hidrológicos e climáticos extremos torna-se fundamental para uma gestão eficaz e preventiva dos desastres. Tradicionalmente, a modelagem hidrológica e hidráulica foi amplamente utilizada para esse fim, fornecendo uma visão detalhada sobre o comportamento das águas em bacias hidrográficas. No entanto, esses métodos exigem investimentos substanciais de tempo, recursos financeiros e acesso a séries históricas de dados confiáveis — uma realidade muitas vezes impraticável para diversas regiões do globo, especialmente para países em desenvolvimento, que contam com infraestruturas limitadas.
Nos últimos 50 anos, os avanços em algoritmos de aprendizagem de máquina emergiram como uma solução inovadora e economicamente viável para enfrentar esses desafios. A flexibilidade dessas abordagens as torna ideais para cenários de rápida urbanização, onde as condições ambientais e socioeconômicas estão em constante mudança. Ao prever possíveis áreas de risco, essas tecnologias permitem que gestores e planejadores urbanos implementem medidas preventivas, como a criação de bacias de contenção, o reforço de sistemas de drenagem e a remoção de assentamentos em áreas de alto risco.
Além disso, o custo-benefício desses modelos baseados em dados é um fator de destaque. Após serem treinados com dados de uma determinada região, esses algoritmos podem ser aplicados a diferentes contextos geográficos com modificações mínimas. Isso é especialmente relevante para regiões com recursos técnicos-instrumentais e financeiros limitados.
No entanto, é importante ressaltar que, para o sucesso da aplicação dessas técnicas, é necessário investir na coleta e atualização contínua de dados. A qualidade dos dados de entrada ainda é um fator crítico para garantir a precisão dos modelos preditivos. Além disso, a integração entre as soluções tecnológicas e as políticas de governança é essencial para que os resultados dessas análises possam ser traduzidos em ações concretas e eficazes.
Portanto, está coletânea pretende abordar como os algoritmos de aprendizagem de máquina podem ser aplicados ao contexto das inundações no Brasil. Ao explorar casos práticos e a literatura atual, apresentaremos as principais vantagens e limitações dessas tecnologias, além de discutir os desafios futuros. Nosso objetivo é fornecer uma literatura acessível para a apresentação de técnicas avançadas de análise de dados na gestão dos impactos hidrológicos, com foco na prevenção de desastres e na proteção das populações mais vulneráveis.
Assim, esperamos que os cenários, ideias e soluções apresentados ao longo deste livro inspirem práticas que contribuam para uma convivência mais harmônica e sustentável entre a sociedade e o meio ambiente, transformando a realidade de áreas vulneráveis em um cenário de maior segurança e bem-estar para todos.
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