A política é o tema dos textos aqui reunidos. Não se trata apenas da busca de definições ou de um exercício de análise. A política é abordada em seus aspectos mais concretos, apesar de muitas vezes recorrer à categorias e elaborações teóricas. Foram textos escritos e, originalmente, pensados a partir de debates sobre a política e de experiências relacionadas à “militância” e vivência política; bem como tendo por base de leituras de textos que instigam a reflexão em termos do repensar as questões políticas de nossas sociedades e de nossa época. Não apresentam, portanto, um esforço exaustivo ou sistemático de abordagem da complexidade das questões políticas, mas tão somente constituem um esforço continuado e situado de reflexão sobre questões concretas que se apresentam nos debates e embates cotidianos, partidários e acadêmicos sobre as relações e as práticas políticas mais variadas.
A política aqui, portanto, tem um forte componente intersubjetivo, ou seja, apresenta-se antes de tudo na constituição de sujeitos imersos em relações socais e de poder e que, de algum modo, são compelidos ou seguem um impulso de posicionamento diante das disputas, dos embates e dos conflitos que envolvem as decisões políticas. Nesse sentido, atravessa esses textos uma preocupação com o estabelecimento de uma posição política, ou uma posição no campo político, ao mesmo tempo crítica e estratégica, como protagonista político – e não se refere à política como simples objeto de estudo, prática partidário-eleitoral ou governo instituído. Por isso, a busca de uma conceituação e de uma prática política que supere as ideias mais estreitas, estéreis e redutoras da política – como aquela que a reduz ao instituído (as eleições, administração pública) ou a toma como uma atividade pejorativa, negativa ou indigna.
Portanto, além desses esforços de ampliar e aprofundar o campo da ação ou do agir político, tratamos das questões relacionadas às práticas políticas eleitorais, ao governo, à politização da sociedade ou socialização da política, à pedagogia política, aos partidos e movimentos sociais etc. Em cada um desses eixos temáticos busco caminhos ou respostas, ainda que provisórias e precárias, para encontrar formas alternativas de pensar as questões das alternativas políticas, das mudanças sociais, dos projetos políticos, da emancipação social e das escalas de exercício do poder ou do governo (em um sentido amplo), como também das resistências, da ação política crítica e criativa, emancipatória e libertária.
Sei que, nesse sentido, há uma grande ambição nesses textos, o que talvez não os tenha livrado de algum simplismo, reducionismo ou superficialidade. Mas, concebo-os como uma forma de exercício de reflexão, de participação e intervenção nos debates, e não como uma reflexão acabada e norteadora. Trata-se muito mais de construir novos discursos políticos através da inserção num campo de diálogo ou por meio de diálogos, como forma também de construir outros projetos políticos coletivos, pois, considero que projetos políticos de transformação e emancipação social se constroem, indissociavelmente, com discursos e ações. É ingenuidade acreditar que o agir político precede, preside ou prescinde de discursos políticos. Todos os que têm se dedicado a pensar a política consideram ação e discursos co-constitutivos, inseparáveis, senão nem teria sentido seus esforços em repensar a política.
O AUTOR