Não é recente o interesse da pesquisa econômica internacional pela temática do crescimento econômico, particularmente associado aos movimentos de convergência e divergência ou aos hiatos (gaps) dos níveis de renda per capita que tornam as economias tão díspares, fazendo com que alguns países sejam tão ricos enquanto outros permaneçam tão pobres.
De acordo com Jones (2000), o estudo do crescimento econômico floresce nos anos 1960, tendo até os anos 1970 o modelo neoclássico de Solow (1956) como o principal fundamento teórico para o crescimento econômico. Esse modelo assume a hipótese de existência de retornos decrescentes (porém positivos) para os fatores produtivos capital e trabalho em uma função de produção neoclássica, em que a tendência declinante do produto marginal do capital no longo prazo somente pode ser compensada pela presença do progresso tecnológico, o qual permite que os países mantenham um crescimento sustentado à mesma taxa deste fator. Assim, as diferentes taxas de crescimento econômico entre os países seriam explicadas pela presença de diferenças não modeladas de progresso tecnológico, além de serem justificadas pela própria dinâmica de transição, permitindo que as economias que apresentem razão capital tecnologia inferior ao nível de longo prazo, cresçam rapidamente até alcançarem o nível de estado estacionário.
Desse modo, em consonância com a lógica do modelo neoclássico, Jones (2000) destaca a velocidade de crescimento de países que tiveram seus estoques de capital destruídos pela Segunda Guerra Mundial (como a Alemanha e o Japão), mas que em meio século superaram o ritmo de crescimento do próprio território norte americano que estivera fisicamente fora do cenário do conflito, a partir da manutenção de níveis elevados de poupança; assim como Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan, que apresentaram rápido crescimento econômico a partir do aumento de suas respectivas taxas de investimento, as quais permitiram a transição para uma razão produto tecnologia mais elevada.
Para Stülp e Fochezatto (2004), o modelo de Solow prevê que diante da presença de retornos decrescentes para os fatores produtivos, regiões menos desenvolvidas ao promoverem uso menos intenso de tais fatores, tenderiam a crescer em velocidade maior que as regiões mais desenvolvidas, em que a utilização dos fatores produtivos é realizada de forma mais intensiva, de modo a alcançarem a convergência de renda per capita no longo prazo.
Na tentativa de validar a hipótese de convergência, o presente trabalho utiliza a metodologia do Processo de Markov de Primeira Ordem (a qual permite tanto capturar o movimento das rendas na direção de seu estado estacionário, quanto mensurar o tempo necessário para que as economias em análise alcancem o equilíbrio de longo prazo), tomando como base os trabalhos internacionais de Togo (2001), Ponzio (2004), Geppert, Happich e Stephan (2005), Temel, Tansel e Gungor (2005), Sakamoto (2007), Rodriguez e Velàzquez (2009), Naschold (2009), e Rattso e Stokke (2011); e os estudos nacionais de Laurini, Andrade e Pereira (2003), Stülp e Fochezatto (2004), Fochezatto e Stülp (2008), Pessoa et al (2009), Santos (2010), e Salvato e Matias (2010).
Dentre tais estudos, que fazem uso desta metodologia aplicada ao meio rural, em nível internacional, destaca-se apenas o realizado por Temel, Tansel e Gungor (2005), que examina a convergência de renda entre os setores agrícola, industrial e de serviços de transporte da economia turca para o período de 1975-1990 e quanto à literatura nacional, ressaltam-se os estudos desenvolvidos por Pessoa et al (2009), que analisa a convergência do PIB agropecuário per capita dos Estados brasileiros entre 1995 e 2005; e Santos (2010), que investiga a convergência da renda agropecuária entre os municípios do Estado de Goiás para os anos de 1996 e 2006.
Diante da dinâmica apresentada pelo setor agropecuário, particularmente no período pós transição para o Plano Real (1996-2009), quando o PIB agropecuário, seguindo a tendência do PIB nacional apresenta trajetória de crescimento quase que ininterrupta, em que os maiores níveis de PIB per capita sugerem redução das desigualdades de renda entre os estados do país, e melhoria das condições de vida no meio rural, torna-se imperativo investigar se tal dinâmica seria resultado da ocorrência de um processo de catching up, em que no steady state as economias estaduais apresentariam convergência de suas rendas per capita agropecuárias, configurando, no longo prazo, um crescimento econômico mais equilibrado. Nesse sentido, este estudo espera contribuir para a eliminação de lacunas existentes acerca de estudos de convergência da renda no campo rural, buscando, através do processo estacionário de primeira ordem de Markov (que constitui um método relativamente novo), identificar se os movimentos de renda per capita agropecuária nos Estados do Brasil tendem à equalização e convergência no longo prazo; ou se o crescimento econômico rural se processa de maneira concentrada, acentuando ainda mais as disparidades interestaduais já existentes.
(A autora)
Sobre a autora
Isabela da Silva Valois possui graduação em Economia, especialização em Administração Financeira, mestrado em Economia Rural e atua como professora das disciplinas de Economia no Curso de Administração da Universidade Estadual Vale do Acaraú.