Soy lo que sostiene mi bandera
La espina dorsal del planeta es mi cordillera
Soy lo que me enseño mi padre
El que no quiere a su patria no quiere a su madre
Soy américa latina
Un pueblo sin piernas pero que camina
(Latinoamérica – Calle 13).
Conscientes da dimensão de colonialidade, inerente ao conceito de América Latina, e as formas de desrespeito a ele vinculadas, nosso objetivo é acima de tudo o de resistir e de sustentar a bandeira do ensino do Espanhol em todas as instituições de ensino no Brasil, para que assim possamos ser capazes de contemplar a diversidade de povos, histórias, lutas políticas e modos de vida que habitam o nosso continente.
A nossa espinha dorsal para isso é a língua espanhola, língua falada em todo o vasto território de colonização espanhola que forma a América Latina, e entre tantos países hispânicos, está localizado o Brasil, país de colonização portuguesa, porém com profundas raízes históricas, étnicas, culturais e políticas que se assemelham e se relacionam aos povos hispano-americanos.
Além disso, o Brasil é membro da América Latina, parte de um todo, a singularidade em meio à pluralidade. Porém, os brasileiros, no geral, ainda insistem em não reconhecer sua identidade latino-americana, afastando e até mesmo repudiando suas origens comuns.
De acordo com Arnoux (ARUGUETE; SHIJMAN, 2012), a única maneira de consolidar a integração política na América é por meio da integração linguística. Nessa relação, as línguas são elementos essenciais, afinal, é por meio delas que se dá a comunicação e demais formas de interação; e nesse livro, através de seus dez capítulos, professores dos diversos Campi do Instituto Federal do Pará (IFPA) trazem suas histórias, experiências e perspectivas para o ensino de espanhol como língua estrangeira (ELE) afim de integrar os alunos da instituição com a língua espanhola, para que o ensino desta língua desperte neles a sua identidade latina.
Pensar a diversidade cultural na América Latina e Caribe, é entender o que o Édouard Glissant (2005) aponta que a partir de uma poética da diversidade e da relação, os vários elementos culturais se “crioulizam” no continente, formando um todo “imprevisível”. O Diverso é a indicação de que toda cultura é heterogênea e se forma no contato necessário e fundamental com outras culturas. Este Diverso na “Totalidade-mundo” é a perspectiva abordada pelo escritor martinicano de que “o mundo se criouliza” (Glissant, 2005).
Portanto, os fenômenos de crioulização são importantes pois permitem novas abordagens da dimensão cultural das humanidades no continente, isso passa pela recomposição da paisagem cultural existente. Para Glissant (2005), “a crioulização supõe que, os elementos culturais colocados em presença uns dos outros devam ser obrigatoriamente “equivalentes em valor”. (GLISSANT, 2005, p. 20-21).
Da mesma forma, Néstor Garcia Canclini (2008), traz a perspectiva do hibridismo cultural ocorrido nas Américas. Para o sociólogo argentino, a hibridez ocorre a muito tempo dentro de largos processos históricos de ocupação, emancipação e modernização. Para Canclini (2008) a América Latina passa por uma abrupta interpenetração e coexistência de culturas, advindas das mais variadas partes do mundo. Muitos processos de formação cultural ocorridos desde o século XVI dão conformação a uma “mesclagem cultural”. São elementos simbólicos e que fazem parte de toda a gama cultural dos países latino-americanos.
Teóricos como o cubano Fernando Ortiz e o uruguaio Ángel Rama (apud REIS, 2005, p. 465-488.) também apontam para a necessidade de pensar e entender os processos de diversidade cultural na América Latina a partir dos processos históricos, mas com foco ao “lugar” de onde sai a voz narrativa das identidades que constituem o continente americano. Portanto, a grande heterogeneidade cultural, também encontrada nos pressupostos teóricos do peruano Cornejo Polar (2000, 2003) deve ser levada em conta. Pensar no ensino de idiomas, particularmente da língua espanhola, é preciso levar em conta que a língua faz parte de todo esse emaranhado de representações simbólicas e significação cultural que o próprio aprendizado do idioma traz consigo.
Para isso, os artigos em questão, abordarão desde aspectos conceituais e teóricos sobre a importância de se ensinar espanhol no ensino médio e a relação desse ensino com as políticas de internacionalização no IFPA. Vários artigos abordarão a relação do ensino-aprendizagem de línguas; seja pelo viés da Linguística Aplicada, no uso de tirinhas ou de projetos interdisciplinares; seja no ensino de línguas para fins específicos, como o caso do uso do teatro para o curso de Guia de Turismo ou até mesmo, o tão importante tema na atualidade, os usos das Tecnologias da informação e comunicação (TIC´S) nas aulas de ELE, incluindo uma experiência no atual cenário de pandemia de Covid-19 que passamos em 2020.
O livro ainda traz um artigo que narra a história do ensino de espanhol no IFPA-Campus Belém e dois textos que refletem sobre o ensino de ELE voltados às práticas extensionistas: um demostrando o trabalho docente no ensino de espanhol como curso de extensão, o outro mostrando um projeto de extensão sendo executado como forma de auxiliar na aprendizagem em sala de aula, destacando os aspectos de identidade e cultura de um país, República Dominicana, por meio da música.
Estes textos, demostram que mesmo após a revogação da lei 11.161/2005, o ensino de espanhol no IFPA resiste as várias tentativas de acabar com o ensino da língua na Instituição, e resistimos porque somos América Latina, mesmo às vezes, esquecendo e não se identificando como tal e trazendo a hegemonia ibérica para a sala de aula, somos América Latina e ser América Latina é ter como o nosso norte, o Sul, porque somos Un pueblo sin piernas, pero que camina.
Uma excelente leitura a todas e a todos!
Flávio Reginaldo Pimentel
Jairo da Silva e Silva
Wellingson Valente dos Reis
Organizadores